sexta-feira, 29 de abril de 2011

Nuvens da Tarde

Aquelas nuvens, que voam,
Ninguém pode pôr-lhes mão...
São como as horas que soam,
E as aves, que em bando vão...
Como a folha desprendida,
E como os sonhos da vida,
Aquelas nuvens que voam...

Às vezes o sol, que as doura,
Parece à glória levá-las 
Mas surge o vento e, numa hora,
Já ninguém pode avistá-las!
É um convite enganoso,
Um escárnio luminoso,
Às vezes, o sol que as doura!

Tantos castelos caídos!
Tantas visôes dissipadas!
Gigantes, heróis perdidos,
Que mal sustêm as espadas!
Faz pena ver, lá do monte,
Nas ruínas do horizonte,
Tantos castelos caídos!

E as donzelas lastimosas,
Que vão fugindo transidas!
Quem fogem elas ansiosas?
Que buscam elas perdidas?
Ó romances fugidios!
Vejo os tiranos sombrios,
E as donzelas lastimosas!

Aquelas nuvens que vemos,
Esses poemas aéreos,
São os sonhos que nós temos,
Nossos intímos mistérios!
São espelhos flutuantes
Das nossas dores constantes
Aquelas nuvens que vemos...

Nossa alma vai-se com elas,
À procura, quem o sabe?
Doutras esferas mais belas,
Já que no mundo não cabe...
Voando, sem dar um grito,
Através desse infinito,
Nossa alma vai-se com elas!

(Antero de Quental)
Primaveras Românticas

Hoje é dia Mundial da Dança


«A dança é a linguagem escondida da alma» (Martha Graham)

(...)andas pela tarde de ar tristonho, deixas sangrar no peito uma saudade e um sonho.... um dia vou-te ver, chegando com um sorriso, pisando a areia branca que é o teu paraíso (...)


Há dias

Há dias em que julgamos
que todo lixo do mundo
nos cai em cima
depois ao chegarmos à varanda, avistamos
as crianças correndo no molhe
enquanto cantam
não lhes sei o nome
uma ou outra parece-se comigo
quero eu dizer: com o que fui
quando cheguei a ser luminosa
presença da graça
ou da alegria.
Um sorriso abre-se então
num verão antigo
e dura, dura ainda.
(Eugénio de Andrade)

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Belíssimo





Aun antes del agua y de conocerte incluso,
Yo tenía,... pero ya no
Ni siquiera:
Mi porvenir incierto;
Mi equipaje
Mi caminar, mis pasos mi pasaje,
Mi enterramiento entero, mi calvario, mi dialecto portuario,
Mi apalabrada historia, mi garganta, mis poemitas, mi esperanza

La dolorosa farsa de mis fosas, mí encarcelado cielo de la boca,
Mi tren de olor; Mis pasiones mis posturas, mis locuras e ilusiones;
Mi adivinanza entera, mis rincones, la verdad de mis otros amores;
Mis amigos, mi vino, mis envidias, mis asquerosas poses y mentiras.
Todas las amapolas, los planetas, el espacio y sus maquetas.
Todas mis noches bellas, las estrellas y la luz que puse en ellas.
Todo mi cuerpo entero y mis poetas; mi piel mi abrazo amargo, mis muñecas.

Todo esto que antes sólo era mió te lo has llevado y lo he perdido, lo he perdido
Desde que te veo,
Desde que te espero,
Desde que te deseo,
Desde que...te quiero

Viver

Já perdoei erros quase imperdoáveis
Tentei substituir pessoas insubstituíveis
E esquecer pessoas inesquecíveis

Já fiz coisas por impulso
Já me desiludi com pessoas
Que nunca imaginei que me desiludiriam
Mas também desiludi alguém

Já abracei para proteger
Já ri quando não devia
Fiz amigos eternos
E amigos que nunca mais vi

Amei e fui amado
Mas também fui rejeitado
Fui amado e não amei

Já gritei e saltei de tanta felicidade
Já vivi de amor e fiz promessas eternas
Mas também me magoei muitas vezes

Já telefonei só para ouvir uma voz
E apaixonei-me por um sorriso
Já pensei que fosse morrer de tanta saudade
Tive medo de perder alguém especial (e acabei por perder)

Mas vivi!
E ainda vivo!
Não passo pela vida
E também tu não deverias passar!

Bom é lutar com determinação
Abraçar a vida com paixão
Perder com classe
E vencer com ousadia

Porque o mundo pertence a quem se atreve
E a vida é muito para ser insignificante.

Vive!

(Augusto Branco)

A espera

Sempre que  procuro
na solidão do tempo
o que fazer com a espera
perco-me de mim!

domingo, 24 de abril de 2011

Freda Kahlo



Frida Kahlo foi uma artista única, para muitos é considerada a pintora do século. Apesar de seu pouco tempo de vida, deixou-nos obras magníficas e intrigantes.

Aliança de amigos



......
Caminha e segura a mão, 
a ausência e a confissão,
empresta o ombro e o tempo...
(Martha Medeiros) 

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Generosidade




Dar, com amor!

»Um homem bom não necessita de monumentos: os seus actos permanecem como o seu santuário.» (textos judaicos)

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Expectativa

De origem latina, derivada do verbo expectáre, significa esperar, desejar, ter esperança. Filha da imaginação, expectativa é uma forma de sobreviver ao dia a dia, criando realidades ideais de futuro. Vive da poética dos detalhes, só que  por vezes esperar, prever, desejar pode causar frustrações e desencantos..

As minhas janelas... fechadas ou meias abertas







Fotos minhas - Tunes 2009

O Beijo

Beijo
 
Beijo na face
Pede-se e dá-se:
             Dá?
Que custa um beijo?
Não tenha pejo:
             Vá!

Um beijo é culpa,
Que se desculpa:
             Dá?
A borboleta
Beija a violeta:
             Vá!

Um beijo é graça,
Que a mais não passa:
             Dá?
Teme que a tente?
É inocente...
             Vá!

Guardo segredo,
Não tenha medo...
             Vê?
Dê-me um beijinho,
Dê de mansinho,
             Dê! 

Como ele é doce!
Como ele trouxe,
             Flor,
Paz a meu seio!
Saciar-me veio,
             Amor!

Saciar-me? louco...
Um é tão pouco,
             Flor!
Deixa, concede
Que eu mate a sede,
             Amor!

Talvez te leve
O vento em breve,
             Flor!
A vida foge,
A vida é hoje,
             Amor!

Guardo segredo,
Não tenhas medo
             Pois!
Um mais na face,
E a mais não passe!
             Dois...

*

Oh! dois? piedade!
Coisas tão boas...
             Vês?
Quantas pessoas
Tem a Trindade?
             Três!

Três é a conta
Certinho, e justa...
             Vês?
E que te custa?
Não sejas tonta!
             Três!

Três, sim: não cuides
Que te desgraças:
             Vês?
Três são as Graças,
Três as Virtudes;
             Três.

As folhas santas
Que o lírio fecham,
             Vês?
E não o deixam
Manchar, são... quantas?
             Três! 

João de Deus, in 'Campo de Flores'

segunda-feira, 11 de abril de 2011

A Árvore Cortada

Contemplar uma árvore cortada é desolador! Há pouco tempo fartei-me de a fotografar. Era diferente esta árvore e talvez por ser diferente dava outra beleza à paisagem. Acho que foi isso que me chamou a atenção, ser diferente!  Tenho esta mania de andar sempre à procura de coisas diferentes. Hoje não queria acreditar quando ao caminhar pelo mesmo lugar só encontrei este pedaço de tronco....

 

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Thought of You - A Arte também é um alimento para o espírito!

Eternamente Responsável

 Este é um dos textos que mais gosto de um dos meus livros favoritos

E foi então que apareceu a raposa:
- Bom dia, disse a raposa.
- Bom dia, respondeu polidamente o principezinho, que se voltou, mas não viu nada.
- Eu estou aqui, disse a voz, debaixo da macieira…
- Quem és tu? Perguntou o principezinho. Tu és bem bonita…
- Sou uma raposa, disse a raposa.

– Vem brincar comigo, propôs o principezinho. Estou tão triste…
- Eu não posso brincar contigo, disse a raposa. Não me cativaram ainda.
- Ah! Desculpa, disse o principezinho.
- Após uma reflexão, acrescentou:
- Que quer dizer “cativar”?
- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens necessidade de mim. Não passo a teus olhos d uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo…
…Mas a raposa voltou a sua idéia.
- Minha vida é monótona. Eu caço as galinhas e os homens me caçam. Todas as galinhas se parecem e todos os homens se parecem também. E por isso eu me aborreço um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros me fazem entrar debaixo da terra. O teu me chamará para fora da toca, como se fosse música. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos cor de ouro. Então será maravilhoso quando tiveres me cativado. O trigo, que é dourado fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo…
E a raposa calou-se e considerou por muito tempo o príncipe:
- Por favor… cativa-me! Disse ela.
- Bem quisera, disse o principezinho, mas não tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.
- A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não têm tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!
- Que é preciso fazer? Perguntou o principezinho.
- É preciso ser paciente, respondeu a raposa. Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mau-entendidos. Mas, a cada dia, te sentarás mais perto…
No dia seguinte o principezinho voltou.
- Teria sido melhor voltares à mesma hora, disse a raposa. Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração…É preciso ritos…
… Assim o principezinho cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:
- Ah! Eu vou chorar.
- A culpa é tua, disse o principezinho, eu não queria te fazer mal; mas tu quiseste que eu te cativasse…
- Quis, disse a raposa.
- Mas tu vais chorar! Disse o principezinho.
- Vou, disse a raposa.
- Então, não sais lucrando nada!
- Eu lucro, disse a raposa, por causa da cor do trigo.
Depois ela acrescentou:
- Vai rever as rosas. Tu compreenderás que a tua é única no mundo. Tu voltarás para me dizer adeus, e eu te farei presente de um segredo.
Foi o principezinho rever as rosas:
- Vós não sois absolutamente iguais a minha rosa, vós não sois nada ainda. Ninguém ainda vos cativou, nem cativaste a ninguém. Sois como era minha raposa. Era uma igual a cem mil outras. Mas eu fiz dela um amigo. Agora ela é única no mundo.
E as rosas estavam desapontadas.
- Sois belas, mas vazias, disse ele ainda. Não se pode morrer por vós. Minha rosa, sem dúvida um transeunte qualquer pensaria que se parece convosco. Ela sozinha é porém mais importante que vós todas, pois foi a ela que eu reguei. Foi a ela que pus sob uma redoma. Foi a ela que eu abriguei com o paravento. Foi dela que eu matei as larvas ( excepto duas ou três borboletas). Foi a ela que eu escutei queixar-se ou gabar-se, ou mesmo calar-se algumas vezes. É a minha rosa.
E voltou, então, à raposa:
- Adeus, disse ele…
- Adeus, disse a raposa. Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.
- O essencial é invisível para os olhos, repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.
-Foi o tempo que perdeste com a tua rosa que fez tua rosa tão importante.
-Foi o tempo que perdi com a minha rosa… repetiu o principezinho a fim de se lembrar.
- Os homens esqueceram essa verdade, disse a raposa. Mas tu não deve esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela rosa…
- eu sou responsável pela minha rosa… repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.
Antoine de Saint-Exupéry